Minha querida Mainha já me contou coisas que outras mães não contam para suas filhas. Uma dessas, foi a incrível história do primeiro carro, um Fusca amarelo. Quando ela falou logo disse “Mas mãe, Fusca não é carro. É Fusca”. Ela me olhou com uma cara de que não entendeu a brincadeira, ou de que não gostou.
Após guardar o dinheiro que sobrava com o emprego no banco, Mainha comprou finalmente um “carro” novo e que era a sensação da época. Trazendo para os dias atuais, é como se fosse uma amiga que comprasse um Golf, e eu diria “Ae boyzinha”.
Neste Fusca, ela viajava todos os dias por quase cem quilômetros para trabalhar. Uma parte da estrada era boa, a outra não tinha encostamento, a outra parte o motorista teria de ser ferra em desviar de animais e buracos, mas uma boa parte da estrada era terra pura.
Vale frisar que quando ela foi buscar o “carro”, chamou um primo para dirigir, pois ela nunca havia dirigido e obviamente não tinha carteira. No dia em que o Fusca parou na porta de casa, levado pelo primo, ela sentou no banco do motorista e foi sozinha dar uma volta pela cidade. Se eu tivesse feito isso, hoje estaria sem uma orelha.
Em um dos milhares dos dias em que voltava para casa, na estrada de terra, ou melhor, na lama, pois chovia, o incrível Fusca escorregou na lama e entrou dentro do mato. Por sorte dela, nada aconteceu e logo apareceu alguém ajuda-la. O homem que ajudou para fazer gracinha, comentou: “Onde a senhora tirou a carteira? No Paraguai?”. Ela deu um risinho e respondeu: “Eu não tirei”. Quando chegou em casa, ficou sabendo que o homem muito cavalheiro era o juiz da cidade.
Minha mãe contou que mais ou menos um ano após, aconteceu quase a mesma coisa, mais com estragos maiores. E por sorte dela, o mesmo moço cavalheiro perguntou “E a carteira, é do Paraguai mesmo?”. E ela? “Ainda não tirei”.
Pensando agora sobre essa história, lembro do dia em que peguei o carro dela (que não é um Fusca) e pedir a meu primo para ensinar a dirigir. Ele é um pouco mais novo do que eu, mas sabe dirigir. Quando cheguei em casa, a noticia já tinha chegado aos ouvidos dela, de que eu estava badernando pelas as ruas calmas da pacata Serritinha, dirigindo o Gol parecendo que tava andando de cavalo. Coisas de cidade pequena. Ela deu um baile. Gritos e mais gritos...
Daí ei penso, que se fizesse o que ela (com todo o respeito) já fez, eu, Hortência, estaria enterrada viva, para ficar quieta. É... "faça o que eu digo, mas não faça o que faço".
Quando fui dormir, dei um beijo em Mainha, viramos bunda com bunda (eu só durmo com ela quando estou no Interior) e ela perguntou: “Mas porque Fusca não é carro?”. É, ela não entendeu.
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